16 setembro 2007

E-mail ao Dux Veteranorum

Por ocasião da revisão do Código da Praxe, e aproveitando a actual ruptura de valores no seio da Academia, o TÆ decidiu intervir enviando ao Conselho de Veteranos, órgão responsável por esta reforma, um conjunto de ideias sobre procedimentos de aplicação das normas praxistas. Publicamos seguidamente o texto enviado por e-mail (e cuja recepção foi confirmada) ao Dux Veteranorum.


Ao Conselho de Veteranos

Perante o cenário de descrédito geral que se tem feito sentir recair sobre a Praxe Académica, com pesados reflexos por entre a comunicação social e a abundância de erróneos preconceitos quanto ao teor desta que se encontram enraizados dentro e fora do seio universitário, e, ainda, numa tentativa de combater o agravamento desta situação que se tem feito sentir progressivamente desde um passado não tão próximo, o Tríptico Æminíaco vem sugerir, por ocasião da revisão do Código da Praxe, uma diferente táctica de abordagem à "fiscalização/controlo" da actividade praxista.

Tentaremos explicar, explorar e fundamentar o porquê destas opiniões, frisando no entanto que estamos sempre abertos e disponíveis a todo e qualquer feedback relativo às nossas ideias, e ao porquê de elas serem ou não válidas, submetendo-nos de bom grado ao conhecimento e sensatez do Conselho de Veteranos, que, confiamos, nos irá orientar para que sejamos mais realistas e úteis na ajuda que desejamos prestar.

Depois de reflectir sobre o problema acima apresentado, do descrédito que incide sobre a Praxe Académica, concluímos que infelizmente essa imagem muito se fundamenta na má prática tão comum por parte de quem leva a cabo tais actividades de praxe. De facto, sendo verdade que incidentes realmente graves acontecem raramente, esses atraem um mediatismo muito negativo, que depois é suportado de forma basal pela praxe praticada por pessoas que não sabem, de facto, praxar. É demasiado comum encontrar quem não saiba usar o traje devidamente, ou quem nunca tenha lido o Código da Praxe, ou quem desconheça o significado simbólico de gestos como o eferreá ou o significado histórico da cor negra do traje, e, mais grave de tudo, quem não tenha o senso comum mínimo de saber quais os limites que separam uma praxe razoável de um ataque abusivo.

Confrontados com esta situação, e após discutir e eliminar algumas ideias inviáveis, acabámos por concordar que o melhor meio de contrariar esta tendência é através de um ensinar a praxar. Mas como fazer isso? Pensámos em 3 pontos fulcrais:

1) No início de todos os anos lectivos, providenciar a realização de acções de formação, durante uma a duas semanas depois do início das aulas para cada curso, de forma repetida e em vários horários, por forma a possibilitar a comparência de todos os interessados. Para que haja uma motivação das pessoas a participar nesta acção, além do efeito da aplicação do ponto 2) (sendo que a própria formação deverá ser estruturada por forma a também estabelecer a força deste), deverá ser tido em conta que afixar cartazes não chega, para quem não sabe do que se trata a priori, e como se tem comprovado – quanto mais não seja pela adesão às Assembleias Magnas – também não se interessa muito por si só. É essencial informar proactivamente as pessoas de que isso irá acontecer, recorrer a alguém que vá falar com caloiros, doutores e quiçá pais na própria tenda das matrículas, e que os incite a participar e a descobrir o que é a praxe de forma segura e sem falsos preconceitos. É essencial que haja quem fale disso, quem ande nas ruas quando os cursos em massa andam a levar os caloiros para as picardias, e vá informando as pessoas. E depois, também há que dispor das instalações que temos, como o mini-anfiteatro da AAC, para realizar isto num ambiente suficientemente sério e fechado para desencorajar a tentação de os padrinhos arrastarem os caloiros dali para fora por mera falta de interesse.

2) Apostar no laço padrinho – caloiro para garantir a manutenção do interesse pela praxe, do cumprimento de uma praxe adequada, e de uma transmissão activa, íntegra, e interessada dos usos e costumes que constituem a praxe, de padrinho para caloiro. A mero título de exemplo, um caloiro que na acção de formação proposta em 1) fosse sensibilizado para o que realmente é a vivência da praxe, e que depois pudesse usufruir dela devido à boa prática desta que experimentou por parte dos doutores, enquanto caloiro, ao chegar a sua vez de apadrinhar um caloiro, certamente lhe incitaria o interesse pela praxe e o levaria pessoalmente à acção de formação desse ano.

3) Este é o ponto que se nos afigurou mais difícil de desenvolver, embora seja o fundamento para tudo o que subjaz aos dois anteriores. Não conseguimos uma posição muito forte ou esclarecida neste ponto principalmente porque desconhecemos a realidade dentro do Conselho de Veteranos. Não sabemos por quantos Veteranos é composto, não sabemos qual a eventual disponibilidade destes, não sabemos quais os recursos de que realmente dispõem. Mas supondo que não se verificam limitações, a nossa visão consiste no seguinte:

Actualmente, o Conselho de Veteranos é um órgão muito fechado. Não que alguma vez tenhamos tido conhecimento da recusa a um tirar de dúvidas, ou a uma queixa sobre abusos da praxe, ou seja ao que for. Mas o facto é que, sendo tudo isso verdade, é-o dentro apenas da Sala Sr. Xico. O estudante tem que procurar o Conselho de Veteranos para atingir os seus fins. Não que isto esteja mal, afinal é mesmo assim que se supõe que deva funcionar, mas tendo em conta o discutido acima, se é tão largo já o desconhecimento da praxe e a falta de interesse e cuidado para bem a praticar, aqueles que fazem o mal, nunca se dirigirão ao Conselho em busca de ser corrigidos. E assim, o problema nunca se resolverá. Não será de todo descabido, portanto, uma mudança na forma de actuar deste órgão. Não uma mudança marcada, oficiosa ou oficial, mas um simples sair à rua. Principalmente no início dos anos lectivos, quando a Praxe sai à rua sem medo, ir acompanhá-la. Dar uma vista de olhos. E, no terreno, de forma devida, ir chamando à atenção aqueles que não saibam o que fazem. Não sugerimos nenhum modo de actuação específico – seja ir às unhas punitivamente ou simplesmente conversar e ir ensinando, ou seja como for – apenas sugerimos que se actue. Lá, onde o mal acontece. Para o cortar pela raiz




Post scriptum: considerámos apresentar uma estrutura organizacional mais elaborada, com órgãos próprios de tarefas previamente delineadas; todavia, e dadas a radicalidade de tal alteração a par da eventual pouca operacionalidade de tal sistema, dado sobretudo ao corropio do início do ano onde todos os erros se manifestam e se propagam, pensámos nesta abordagem mais incisiva aproveitando a estrutura existente e despertando apenas as atitudes. Oxalá seja a melhor para todos.

Coimbra, 31 de Julho de 2007

Os membros do Tríptico Æminíaco:

(Luís C. Rodrigues)

(Nelson F. Coelho)

(Pedro L.P. Sousa e Silva)

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